Uma das qualidades de um bom texto é a sua clareza. É quando o leitor, dotado de capacidade, consegue compreender o que está escrito. Simples assim!
Você que escreve deve ser capaz de colocar a sua intenção em palavras de modo que o leitor consiga compreender sem dificuldades. 

Lendo um livro agora a pouco me deparei com a seguinte frase: 

"O sujeito havia pendurado cortinas de renda enormes, empoeiradas e baratas nas janelas, que estavam todas fechadas." 

Essa frase me causou certa estranheza. Voltei, reli algumas vezes. Identifiquei o que me pareceu estranho e mostrarei a você o que torna essa frase estranha – ambiguidade e quebra de paralelismo – e como ela poderia ficar melhor. 

Vamos lá! 

O autor está descrevendo uma cena, o detalhe de um ambiente, logo ele deseja que os leitores enxerguem o que ele está enxergando. 
Ao escrever “havia pendurado cortinas de renda enormes”, perceba que o autor cria uma ambiguidade. Pois o termo "enormes" pode se referir tanto às “cortinas” quanto à “renda”. Mesmo que o plural indique a referência às “cortinas”, ainda assim há uma falta de clareza ao que exatamente a característica se refere. O que poderia ser resolvido com: “O sujeito havia pendurado cortinas enormes de renda”. 

Vamos continuar. 

“... cortinas de renda enormes, empoeiradas e baratas” 
O termo "baratas" indica uma baixa qualidade do material das cortinas, aquilo que a cortina é; enquanto o “empoeiradas” é como a cortina está, uma característica transitória da cortina, como se calhasse que elas estavam empoeiradas naquela ocasião.
Ao colocar “empoeiradas” antes de “baratas”, o autor quebra um padrão de descrição – o que chamamos de “quebra de paralelismo”.  
É como se eu dissesse "O meu vestido é azul, de seda, molhado e com lantejoulas." Percebe que o "molhado" está deslocado? Seria melhor dizer "o meu vestido é azul, de seda, com lantejoulas e está molhado". 
O autor está descrevendo como a cortina é, e de repente, como que sem critério, descreve o estado em que ela está, e depois volta a dizer como ela é. 

Dito tudo isso, como eu escreveria essa frase?  

"O sujeito havia pendurado cortinas enormes, de renda barata, já empoeiradas, nas janelas que estavam fechadas." 

Quando eu reescrevo a frase dessa forma, eu coloco em uma ordem que gera mais clareza. As cortinas são grandes, feitas de uma renda barata que estavam empoeiradas e um sujeito as pendura em janelas fechadas.  É como se agora eu pudesse visualizar sem informações cruzadas, eu não transito em diversas informações que podem ser uma coisa ou outra. Eu vou direto ao ponto.  

Obs.: Em defesa do autor, eu acredito que seja mais um problema na tradução do que de sua escrita. E essa frase tampouco compromete a história em si, eu apenas a usei para ilustrar uma característica da boa escrita: A clareza. 
Clareza
Published:

Owner

Clareza

Published: